Rosto no riso

O telefone toca em outro cômodo da casa. Minha inclinação em ir até lá não é maior do que seria se eu fosse convidada a tomar um banho no pântano. Mesmo assim, reúno coragem: sempre há esperanças. E eu não teria me perdoado se justo essa chamada caísse na caixa postal. O inconfundível e doce som de sua voz melodiosa desperta em mim o anseio por suas carícias, quase como se o seu "oi" ao telefone tomasse a forma de um abraço apertado que tão somente aguarda a supressão da distância em busca da sensibilidade do toque, da mesma forma que o "meu amor" que completa a frase - e sai "mômô" de tão dengoso - soa como um afago delirante de seus dedos macios nas maçãs rosadas do meu rosto inerte.
Faz-me aérea por alguns minutos, mesmo depois de ter desligado. Conservando o riso súbito de outrora, quando a junção das letras no visor revelaram o único nome que tem o poder de fazer minha paz interior transformar-se em um pandemônio entre palpitações e paradas cardíacas. Riso que acontece sem que eu me dê conta, simplesmente porque não há como pensar em você sem lembrar de ser feliz... sem achar o mundo inteiro bonito... sem carregar um brilho no olhar... um riso no rosto... talvez um rosto no riso. 

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