Corri para mim

Depois de tantas reviravoltas, não resisti: este é o lugar. O lugar de quê exatamente? Não sei. Às vezes um desabafo, às vezes algo que simplesmente não merece ficar guardado - já que o que fica guardado não é muito diferente de uma caixa esquecida no meio do porão: não serve para nada e ainda acumula poeira. Sei mesmo que é sempre um escrever para encontrar-se.
Como se sentir preenchido? Esvazie-se. Funciona comigo. Não que eu esteja cansado de mim - só quero dar alguns passos além de meus próprios pés. Quem sabe eu possa voar se esquecer, por um ou dois segundos, essas limitações que eu mesmo me imponho... Se até xícara tem asa, a catacrese também pode me dar uma "mãozinha". E aí a gente vê se, depois que passar a hora, eu ainda me perguntarei: Por que foi tão difícil falar isso antes. E se faltará, de novo, interrogação para tamanha verdade.
Ter te deixado ir sem te chamar de volta foi como aceitar que você fosse... como abrir mão do tempo que te roubo, com justiça, nos fins de semana que chamo de nossos. Mas parei no corredor, sem saber aonde ir e se não teria sido coisa de momento ou para quem correr pr'o abraço: então, corri para mim. E acabei aqui. Este é o lugar onde sou.
E se a voz sair, eu digo em voz alta.

Um pouco

Em todo lugar
Tem um pouco de você:
No banco da praça
Na porta de casa
No meu coração
Onde não posso ver

Talvez quando isso passe
Eu já nem queira mais falar
O grito da saudade
Vem para me lembrar
O sussurro que chamam de amor

Eu vejo a vida passando
O mundo, um vulto na janela
E tudo o que eu quero comigo
Ficando mil metros atrás

Eu preciso de um abraço
Não esse, que não é abrigo
Eu preciso de você
Ou retrocedo uma vez mais

Em todo lugar
Tem um pouco de nós dois
Nas palavras não ditas
Que ficaram pra depois
Na chuva que acabou
Sem estrear sequer um beijo
Na luz que deformou
A silhueta de um desejo

O que há de ti em mim
É substrato
E apesar de qualquer fato
Em todo lugar é o que vejo