Sendo nós


A sua presença não satisfaz a minha carência somente. Completa a mim. A gente vai acontecendo aos pouquinhos, dia após dia, num espaço de tempo marcado por pequenos detalhes que eu vivo procurando. 
Eu não me importo de ser a última na despedida, na sua vã tentativa de fazer parecer que os beijos inocentes de adeus não têm relevância. Agora eu já posso vislumbrar o "eu te amo" nas entrelinhas, das palavras que estão na ponta da língua, no brilho do olhar mas, tão profundamente no coração, que levam anos-luz até chegarem à superfície. E, no fundo, eu gosto desse ritmo lento em que a vida ocorre e nós vamos esperando por ela, já prevendo o que há por vir e com o estômago embrulhando de ansiedade - conscientes dos vários empurrõezinhos que demos sem-querer para que as coisas seguissem essa direção.
A paixão nos remete a isso, entre todas as outras coisas. Nos torna capazes de loucuras, loucos de apostar no arriscado e largar de mão as poucas certezas que temos na vida. Nos faz ver sob outros ângulos, querer explorar o desconhecido, saltar de um trampolim para um verdadeiro mergulho de cabeça no raso. E fazer planos, tão quase sempre impossíveis que nos tornam o melhor tipo de sonhadores. 
Para puro desespero da realidade, meros mortais não são tão meros quando estão apaixonados.

(Mais um para o Nas Margens de Mim)