Outro lado do mundo

Engraçado como as coisas pelas quais esperamos a vida inteira, enquanto brincamos de faz-de-conta, passam a fazer parte da realidade tão de repente, às vezes quase que à pulso e com uma força totalmente imprevisível, como se quisessem dizer "Ei, acorde! Por que esperou que fosse simples?" ao mesmo tempo que dizem descaradamente "Prepare-se. Agora é para valer!" como se preparar-se fosse algo a ser feito de última hora. Mais engraçado ainda é como algumas vão embora, sem aviso prévio, nem despedidas, nem recado na geladeira, como se um furacão passasse por uma casa, deixando tudo às avessas e levasse todas as coisas que não foram firme o suficiente para permanecer lá dentro, mas nem sequer tivesse parado para olhar o estrago tampouco para apagar os rastros, e porque esperar isso de uma furacão? E daí se dói ou não, afinal?... e esta grande reviravolta tira tudo do lugar, nos deixando a tarefa de limpar a bagunça, varrer a poeira e nos acostumar com o novo ambiente, tão conhecido quanto irreconhecível. É a mesma casa, varanda, o mesmo balanço pendurado toscamente no alpendre; mas socorro - e alguém socorra - ela foi arrastada da Disneylândia ao Extremo Oriente num passe de realidade. Por fim, acabamos cogitando a possibilidade de ficar justamente por causa que qualquer outra possibilidade está fora de cogitação. Vamos nos acomodando dia após dia, a sensação de ter tomado um banho de água fria logo é substituída por outras novas, desconhecidas e intrigantes sensações. E o tempo, fazendo o melhor que sabe fazer, trata de passar e tornar tudo o que um dia foi desesperador em algo de fato engraçado. Aí só nos resta rir.

Esfriando

Verão. Calor. Suor. Sorvete. É muito simples porque uma coisa leva à outra. Num belo dia de verão - belo mas ainda assim muito quente -, gotejando de tanto suor, decidi que o melhor a fazer era esfriar um pouco a situação, simplesmente porque nós precisamos encontrar o meio termo das coisas. A questão é que havia uma sorveteria não muito longe e uma garota determinada a ir até lá.
Depois de enfrentar o sol, a fila, o caixa (engraçado esse negócio de pagar antes de comer, né?!) chegou a minha vez "- Um colegial, por favor!"  "- De que sabor?" E esse foi o maior problema até ali. Ora, tantos sabores tão gostosamente saborosos de sorvete e eu teria de escolher apenas um, chegava a ser crueldade, mais ainda porque sou indecisa quando se trata de escolher ou, pelo menos, na maioria das vezes. Isso geralmente é coisa que eu não assumo assim tão facilmente porque, veja bem, todo mundo acha tão bonito ser decidido, 8 ou 80, têm aversão ao mais ou menos, costumam dizer "mais pra lá ou mais pra cá?" e, se a gente olhar bem, mais ou menos até que pode ser uma resposta bem definitiva.
"- E então?" "-...frutas tropicais, iogurte com amora... hmm... floresta negra... não, espera, espera, espera, BRIGADEIRO, brigadeiro está ótimo!" A sorte é que sempre há aqueles cujos quais temos mais afinidade, por assim dizer, os sabores de sorvete que vamos pedindo até que chegue a ânsia de inovar. E eu ficaria bem satisfeita com um sorvete colegial de brigadeiro. "- Cobertura?" "- Aham, capricha aí, moça!" "- De que sabor?"
Umpf, é muita luta para alcançar essa almejada temperatura ambiente.

A escalada

Faltava muito pouco, a euforia aumentava proporcionalmente à medida em que estava mais perto, havia uma batida familiar, vinda de algum lugar lá de dentro, que fazia doer a caixa torácica. Houve um momento em que já não estava mais aguentando, suas pernas tremiam fartas, seu corpo inteiro era pura fadiga, e então avistou o cume. Um sorriso apareceu em seu rosto (mais iluminado que o sol), uma força revigorante trouxe novamente o ar de seus pulmões e depois de poucos minutos ela alcançou seu sonho da vida inteira. Estava inegavelmente feliz. Naquele instante não faltava mais nada. Ainda havia outros planos, outros desejos, outros sonhos, mas não, não naquele momento. E depois de incontáveis pulos de alegria, parou e observou o quão alto chegara e pensou no seu esforço e determinação, nunca havia deixado de acreditar em si mesma e não se levara a sério o suficiente quando achou que tudo o que podia fazer era desistir, mas ela não somente não desistiu como também seguiu em frente.
Olhou para baixo e sentiu um frio na barriga, gostava daquilo. Pensando bem, afinal de contas, o que era o cume se comparado a toda escalada? Que importância teria se passasse apenas dois metros do chão? Que valor lhe seria atribuído se não fosse tão difícil alcançá-lo? E se deu conta de que não era só o topo da montanha, era tudo o que havia feito para chegar ali, que o primeiro passo pode te levar à esquina ao mesmo tempo que pode te fazer rodar duas quadras inteiras, dependendo de onde queira chegar. Ela queria o longe, nunca se conformou com o que era palpável, nunca se conformou em esperar que viessem até ela, por isso foi até lá. Queria o impossível, perfeitamente possível que é.

Atualização:
"Eu aprendi que todos querem viver no topo da montanha, mas toda a felicidade e crescimento ocorre quando você está escalando-a." (Shakespeare)
Encontrei esta frase na agenda de 2011 do colégio, talvez eu tenha me inspirado nela, inconscientemente.

Isso sem falar das não-tão-românticas

Ela precisa de amor e carinho. Ela precisa que você olhe nos seus olhos e só então diga, e que diga a verdade. Ela precisa de incentivo, mesmo que pareça sem lógica apostar numa coisa tão improvável quanto alcançar um sonho. Ela precisa de tempo para estar convicta do que é a coisa certa a se fazer, e, principalmente, que alguém a espere durante esse tempo e segure sua mão e mostre que é seguro seguir o coração dessa vez. Ela precisa de algo constante, de abraços constantes e palavras acalentadoras. Permanência. Ela precisa de sorrir, de risos infinitamente longos, que seja necessário um intervalo para respirar e que ela continue rindo, desta vez com as mãos apertando a barriga. Ela precisa de otimismo, de polegares indicando positividade. Ela precisa de companhia mesmo quando aparenta não querer. Todos precisam, afinal. Ela precisa de elogios, não daqueles grotescos que enaltecem mais o físico que qualquer outra coisa. Ela precisa de ser notada, ainda que só tente. Ela precisa de paciência (o máximo possível!!!), até precisa de que de vez em quando calem sua boca e mostrem o quão boba está sendo. Ela precisa de surpresas, de coisas que a deixem intrigada, que despertem curiosidade seguida de uma sensação raiva seguida de "Ah! Não acredito que você fez isso!". Ela precisa de um amor para a vida inteira, mesmo que não seja de toda a vida. Ela precisa de ouvi-lo cantar, não importa a entonação. Ela precisa de um convite para uma dança, um convite para jantar e, por último, um convite para casar. E, se puder guardar segredo sobre isso: ela vai dizer sim.

-
Sei que sumi, posso atribuir a culpa disso a diversas coisas, em primeiro lugar aos estudos. Será que é tarde para desejar um feliz ano novo!? Ah, vamos, o ano nem está tão velho assim...