Debaixo do chuveiro

Originalmente escrito em 26 de julho de 2009

Debaixo do chuveiro, ela canta
No ritmo da música, os passos de dança
Um verdadeiro espetáculo:
Holofotes, aplausos e gritaria
Do lado de cá, os pais também gritam
Mas só que de agonia
A visita pensa sequer pensar
Em voltar aqui
E, debaixo do chuveiro,
A menina sorri
Até que o xampu escorrega
Fazendo arder o brilho no olhar
E a menina, depressa demais,
Os olhos se põe a lavar
Abundantemente, assim como o rótulo diz
O show acabou? Como assim?
Voltem amanhã! Deixem de euforia!
Pois essa menina tem, afinal
Para ser feliz, todo dia.

Areias da madrugada

Originalmente escrito em 17 de outubro de 2010


As ondas banhavam o meu corpo, no vai e vem improvável do raso do mar, siris dançantes brincavam ao meu redor. Meu cheiro de peixe fresco em redes de pescador impregnava o ar puro do dia.
A aurora já vinha surgindo e eu sabia que agora faltava pouco, ele logo estaria lá, brilhando de novo. Ainda que o mundo continue desmoronando.
Dessa vez, eu estava otimista, nunca havia tentado numa segunda-feira, afinal. Dessa vez, tinha que dar tempo. Esperei, ansiosa por um milagre.
Os fios de meu cabelo pingavam água salgada, as gotas que atingiam meu rosto fazendo o mesmo percurso das lágrimas. Chorar deve ser assim, pensei.
Dei uma olhada furtiva para trás, quando os murmúrios ao longe me fizeram estreitar os olhos. Já ficando perto.
Havia um segredo a ser guardado. Mergulhei de volta para casa.
Minha cauda verde-esmeralda emergiu segundos depois, deixando uma criança, que viera correndo na frente dos pais, de olhos arregalados e completamente boquiaberta, com os pézinhos fincados na areia macia.
Seu maior sonho, diria ela mais tarde.
Mas sereias não existem, retrucariam.

Protótipo


Certo dia, conheci um lugar novo, onde muitas pessoas se faziam presentes. Ao observá-las por tempo indefinido, pude perceber que estavam essas pessoas claramente divididas em dois grupos. O primeiro grupo dizia respeito àquelas que pareciam encontrar velhos amigos - pois abraçavam-se uns aos outros com força suficiente para esmagar qualquer saudade - e àquelas que caminhavam com passos determinados em direção ao que sabiam bem, como se pudessem seguir em frente mesmo de olhos fechados, e ainda às pessoas que pareciam ter chegado aonde queriam, essas, especialmente, perambulavam de um lado a outro, parecendo ocupadas demais no momento, entretanto carregavam consigo um ar de tranquilidade, cujos vincos na testa, por muitos que fossem, não faziam alusão à preocupações triviais. No segundo grupo, estavam aquelas que pareciam tão deslocadas quanto eu. Os olhares dispensados a nós nunca ultrapassavam dois segundos, acredito que, se realmente nos notaram, então, preferiram não se importar. Naquela ocasião, eu não estava sozinha, mas experimente adentrar uma floresta em que você nunca esteve acompanhado de alguém com mesmíssimo grau de experiência e verá que a companhia não será consolo suficiente.
As respostas que nos deram, na maioria das vezes, nos fez mais confusos que antes e as poucas que serviram de algo somente esclarecem dúvidas imediatas - nada que pudesse nos nortear. Ficamos esperando uma recepção que nunca veio, ao invés disso nos deram um mapa minúsculo e um pirulito que adoçou a vida enquanto durou a primeira e única mordida que o transformara num mero palito. As coisas essenciais, fomos, por conta própria, aprendendo - com a mesma voracidade com que feras famintas devoram sua presa -, até adquirirmos a qualidade de predadores. As pessoas eu não as culpo de terem, por bem ou mal, conseguido se encontrar e esquecido por completo a sensação de estar em busca, de si mesmo, de uma direção a que seguir, de respostas que alcancem o cerne do questionamento... 
Devo confessar que até hoje não sei o que faço aqui. Tudo bem, eu já consigo discernir cada banheiro e corredor e agora sei o meu horário de aulas de cor. Mas ainda ontem encontramos uma saleta com teto rebaixado no segundo andar da sala de troféus que jamais, em todo esse tempo, imaginamos existir. Em suma, o fim do ano letivo não fará com que eu deixe de me sentir uma eterna caloura. E, cada vez, eu tenho mais certeza de que a escola é um protótipo da vida. 

Acordar para o dia

O dia amanhã começa cedo, o escuro logo passa e dá espaço ao brilho aquecedor das manhãs, que nem mesmo a brisa gelada, velho sopro do litoral, consegue extinguir. Das janelas do carro, as árvores transformando-se em um borrão multicor, mais verde que todas as cores. E as nuvens com seus nomes cujos quais nunca recordo, de formatos os mais diversos, enfeitando o céu azul-turquesa por tempo interminável até sumirem no instante em que menos se espera - assim como aqueles sentimentos que ora são tudo o que é possível pensar e sentir (e pensar em sentir) e de repente perdem o significado, já além do campo de visão. 
Às vezes, a nimbus-sei-lá-das-quantas chove. Às vezes, quando chove, volta logo a fazer sol. Mormaço. Clima sem previsão. Aprendi a levar um guarda-chuva na bolsa, por via das dúvidas. A coisa até que é uma boa sombrinha quando a gente sabe fazer o melhor com o que se tem em mãos. Quando nós mesmos somos o melhor que conseguimos. Uma série de adornos imprevisíveis ao longo dos anos, um jeitinho ali, outro aqui, e voilà.
E o tempo escasseando a cada quilômetro percorrido, paradoxando a sabedoria que ele mesmo traz enquanto anda rumo ao perecer. Deixa pra lá, ele diz. Eu deixo. Não há mais o que se fazer.
O dia amanhã começa cedo, sonolento, silencioso. Bom. Como sempre foi dito, como sempre é, bastando que acordemos mais uma vez. Enfim, decidi vivê-lo, integralmente, de forma atemporal.
Abrir os olhos. Acordar para o dia.
Mais tarde, só mais uns cinco minutinhos, e a gente acorda para a vida.

Você aqui

Com você aqui
É fácil sentir
É fácil acreditar
Em qualquer sonho de nós dois

Com você aqui
O mal que há em mim
Tudo o que for ruim
Precisa marcar hora pra depois

Com você aqui
Eu posso repartir
Eu faço triplicar
O amor de cada dia

Com você aqui
Qualquer beijo e abraço
Qualquer peça de teatro
É uma dose de alegria

Com você aqui
Tá tudo certo no meu coração
No nosso jardim
Ainda brincamos de inventar constelação

Com você aqui
Sou mais eu do que sozinha
Meus segredos para que os conheça
Nem preciso revelar

Você é pra mim
Mesmo não estando aqui
Mais um bom motivo
Para estar

Vida a te esperar

Mal perdi o efeito grogue que o sono provoca e já penso em você... de repente, a imagem de seu sorriso singular alastra-se em minha mente feito um calmante, uma luz no início do túnel, feito cena do meu filme favorito, tão digna de “replay”.
Sabe, a rotina que não compartilhamos tem sido difícil mas, lembrar de você a cada segundo com prioridade me faz questionar a medida da distância que nos separa... se ela, de fato, só por ser capaz de afastar os corpos, já é tão tal a ponto de limitar o amor - o que eu, convictamente, creio que não.
Enquanto houver esses momentos cujos quais eu gostaria de poder vivê-los desfrutando da sua presença, raramente outra coisa seria mais apreciada do que aqueles em que o desejo de outrora é a realidade valendo a pena.
E, quando você chegar com o mesmo sorriso singular que me acalma – e, nesse instante, terá o efeito contrário – e pronunciar meu nome com o olhar, irei rumo ao abraço, na pressa de quem já não aguenta fingir paciência. Rirei do seu novo corte de cabelo. Exibirei meus modos desajeitados de sempre. Te ensinarei, mais uma vez, o caminho até a sala de estar. E ficarei contente de poder ouvir sobre os momentos que eu perdi e sobre o quanto você queria que eu tivesse estado lá da mesma maneira que eu mesma queria você aqui... como se fizesse diferença, desde que estivéssemos juntos.
A rotina, enfim, seria recompensada. A expectativa do reencontro, superada. E, o nosso amor expresso, impresso na foto que, mais tarde, dispensaria legendas.
Pois todo o tempo que vivi, estava a te esperar. 

Flecha ao alvo

Eu te vejo e não há questão de tempo até que um sorriso desenhe-se em meu rosto. Um sorriso meio tímido, de quem acaba de sentir uma lufada de vento frio redopiar no oco do estômago; mas sincero, de quem igualmente começa a sentir o peito palpitando de alegria. Simples. Eficaz. Apenas você e os efeitos colaterais que provoca. E a minha única teoria é que sou alvo fácil de um cupido possuidor de uma aljava com número incomensurável de flechas, atento ao menor vislumbre do mais frívolo fio de cabelo seu, o que garante que eu me apaixone de novo e sempre e incontáveis vezes, a cada vez que o vejo. Líquido e certo.
Tudo isso me faz acreditar que ser alvo não é o mesmo que ser vítima. Pelo menos, não quando ser atingido significa passar a ter uma vida repleta de amor ou quando, mais letal que todas as flechas, é o olhar que enfeitiça, as mãos que se entrelaçam, o coração palpável batendo em ritmo de samba-canção à milímetros do ouvido, a proteção dos braços que abraçam...
E, de qualquer forma, a primeira flechada foi tão certeira que me trouxe você. Talvez, tão certeira que também tenha te acertado. Deixa, que nós convivemos com essa dúvida perfeitamente bem.
Eles não entendem mas, às vezes, o cupido sabe o que faz.

Saída

Às vezes eu me sinto só
Quando você não está
E quando mais o mundo gira
Sem você, parece não girar

Às vezes as palavras
Não dizem tudo o que há
E minha voz atropelada
Não soa como uma certeza

Às vezes onde estou
Não parece o melhor lugar
Mas quando me dá a mão
Eu deixo que você me leve

Às vezes a vida
Parece loucura demais
Mas a minha saída
É amar você como nunca fui capaz

Direcionada


O meu dever é quebrar as barreiras que existem, tanto as que estão entre nós como as que moram dentro de ti. E deixar que, de mim, você se encarregue, como tem feito por todo esse tempo nas vezes em que tornou-se a principal razão para que 
eu desviasse a direção dos trilhos e improvisasse os planos.
Há tempos decidi que, depois do teste da moral, seguir o coração é a melhor alternativa. E ele tem sido a bússola que aponta o Norte sempre em sua direção e me orienta.
Eu já não me sinta perdida, uma vez que sei o caminho de casa. Não me sinto impedida quando, cada vez mais, o medo sucumbe sob o peso da felicidade. Não me sinto covarde, porque você me dá coragem suficiente para desafiar o mundo. Não me sinto só, nem que eu quisesse. Me sinto completa, de tão bem complementada.
O meu dever é muita responsabilidade. Mas eu tento. Não por dívida - isso não existe aqui -, e sim por tê-lo como propósito desde que te conheci, antes mesmo que você fizesse qualquer uma dessas coisas que me faz apaixonada. Só pelo fato de ver seus olhos brilharem ao sorrir.
E, quem sabe, mesmo que remota a possibilidade, eu consiga te fazer tão bem quanto você me faz.

Carta pra depois

Querido,
Eu tento ignorar todos esses anos que ainda hão de vir e todas as coisas que devem acontecer antes que finalmente possamos estar juntos da maneira que sonhamos, e brindar o presente com entusiamo, como manda a filosofia daqueles que sabem viver. Juro que sim.
Eu tento me convencer de que o futuro só a Deus pertence e parar de me preocupar a respeito do que não me cabe. E ignorar a ansiedade que insiste em aparecer e ocupar a eterna zona de conflito que eu chamo de mente, apesar de minhas advertências. Mas, na verdade, sei bem que ela é apenas uma pressa contida de querer fazer as coisas enquanto é possível, proveniente do medo de não poder fazê-las depois, quando for a hora certa. Se, quando essa hora chegar, você já tiver ido embora. Se, quando for a hora certa, já for tarde demais.
Afinal, pode ser que a gente se perca ao longo do caminho, tantas vezes tortuoso. Pode ser que deixemos de nos importar, de reconhecer um ao outro. De que abandonemos os planos, as rotas, os sonhos guardados pra depois. De que desistamos dos filhos que nem nasceram e de seus nomes pré-definidos, e de nossa casinha à beira mar, já construída em quimeras. E eu temo que desancoremos o nosso futuro e passemos a velejar, eu no meu, você no seu, como duas coisas distintas na imensidão da vida - que é muito longa quando é torturante.
Mas, do futuro propriamente dito, eu não dou a mínima. Desde que estejamos juntos até lá.
Não... o futuro não me pertence, meu bem, mas confesso que eu brindaria a ele se parecesse um presente multiplicado... se fosse, quem dera, uma promessa de amor cumprida, como temos certeza de que será agora.

Da melhor forma possível

É sempre sobre expectativas e decepções, sempre sobre como a vida não é o que a gente espera e sobre como não podemos confiar uns nos outros sem quebrar a cara no final. E acabamos esquecendo o outro lado da história, as voltas que o mundo 
dá, as coisas que já deram tão certo e o fato de que se nem tudo são flores, não quer dizer que tenha de ser espinhos.
Não é por conta de nenhum otimismo patológico que eu acredito que temos que aprender a enxergar as coisas da melhor forma possível. É, mais verdadeiramente, porque se nos atermos ao pior estaremos condenados a uma vida de sofrimentos sem significado. Sofrimentos que, diferentemente daqueles que vêm sem que movamos um dedo - só pelo fato de possuirmos a capacidade de sentir, poderiam ser evitados.
Os obstáculos estão aí, a nossa vantagem é que podemos escolher o que fazer com eles. 
E aí se, de uma vez por todas, conseguirmos entender que as coisas funcionam assim - que os outros não são perfeitos da forma que queremos, como também não o somos, que não se trata de não criar expectativas e sim de saber lidar com o que vier a nos decepcionar, que um erro só é fracasso quando desistimos de acertar - encontraremos uma razão para, ao invés de chorar, rir. E não riremos mais somente para não chorar.

Rosto no riso

O telefone toca em outro cômodo da casa. Minha inclinação em ir até lá não é maior do que seria se eu fosse convidada a tomar um banho no pântano. Mesmo assim, reúno coragem: sempre há esperanças. E eu não teria me perdoado se justo essa chamada caísse na caixa postal. O inconfundível e doce som de sua voz melodiosa desperta em mim o anseio por suas carícias, quase como se o seu "oi" ao telefone tomasse a forma de um abraço apertado que tão somente aguarda a supressão da distância em busca da sensibilidade do toque, da mesma forma que o "meu amor" que completa a frase - e sai "mômô" de tão dengoso - soa como um afago delirante de seus dedos macios nas maçãs rosadas do meu rosto inerte.
Faz-me aérea por alguns minutos, mesmo depois de ter desligado. Conservando o riso súbito de outrora, quando a junção das letras no visor revelaram o único nome que tem o poder de fazer minha paz interior transformar-se em um pandemônio entre palpitações e paradas cardíacas. Riso que acontece sem que eu me dê conta, simplesmente porque não há como pensar em você sem lembrar de ser feliz... sem achar o mundo inteiro bonito... sem carregar um brilho no olhar... um riso no rosto... talvez um rosto no riso. 

Não é carnaval

"Mas é carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixe a festa acabar,
Deixe o barco correr."

Mas não é carnaval!
Então diga-me quem é você!
Amanhã tudo pode mudar.
Não espere a festa acabar,
Nem deixe o barco correr.

(Longe de mim querer contradizer o nobre Chico mas, tudo muda quando não é carnaval.)

O que eu não disse

Você olhou para mim, preocupado, uma ruga entre as sobrancelhas expressando claramente sua sincera incompreensão.
{Quando você falou que se achava capaz de decifrar o mundo, mas eu lhe parecia um mistério sem solução, eu quis dizer "não está estampado em meu rosto, como todos os outros podem ver? não é meio óbvio demais o que eu sinto?"
Quando você falou que já me conhecia o suficiente e, ainda assim, esperaria que eu estivesse pronta, eu quis dizer ”por favor, por tudo, não desista de mim”
Quando você falou que já não sabia o que fazer, eu quis dizer "apenas fique aqui"
Quando você falou que não poderia imaginar qual seria a minha reação se me roubasse um beijo, eu quis, mais do que nunca, dizer "eu adoraria se o fizesse!"
E, então, quando você falou que eu era a menina, eu quis declarar, com toda a franqueza que fosse capaz de reunir, "não, só sou a sua menina"}.
Eu desviei o olhar. Aquilo era torturante. Por todas as coisas que quis dizer, mas não disse. Temendo que você, finalmente, entendesse que o mistério-sem-mistério-algum era somente a reciprocidade de um sentimento, por ora, enjaulado. Que, no fundo, eu queria deixar escapar. Só esperava pelo momento certo.

Só acho

acho que nós combinamos.
nós, eu e você.
como rimas de uma prosa,
como moda demodê.

acho que o agora
conosco, é generoso
pra quê pensar no futuro?
pra quê?... se ele demora
que seus abraços maviosos
pra acabar, não tenham hora.

acho que já não temo
contigo, o quer que seja
pois tange, de mim, o medo
a força de sua presença.

acho que ficaremos bem,
enquanto houver amor...
e nossa silhueta desenhando horizonte
quando, enfim, o sol se pôr.

acho que resolvi me refazer
só pra ti. de novo.
enquanto aprendia a escrever:
era uma vez,
de tão nosso. conto.

- só acho.

Nas margens de mim

Está nas margens de mim o que eu tento esconder e não posso, por ser mais forte do que eu. Está nas margens de mim essa vontade súbita de um viver estando ao seu lado, de correr atrás de sonhos há muito abandonados e, então, não abandoná-los nunca mais. Está nas margens de mim tudo o que está cravado fundo em meu coração, toda esta luta entre razão e emoção, onde já não se sabe quem fala mais asneiras. Está nas margens de mim... até mesmo quando a expressão é de brandura ou, melhor dizendo, o disfarce é convincente. Por isso que só me compreende quem me conhece com tudo o que eu sinto, de dentro pra fora. Quem sabe reconhecer o choro contido, o riso espontâneo e o querer ir embora. Há momentos em que fica tudo acumulado e não fazendo muito sentido mas, eu sei, sei que é complicado lidar com coisas abstratas. Não se pode encaixotá-las e mandá-las para o Extremo Oriente, afinal - ou qualquer outro lugar bem longe daqui. E elas ficam só rondando os pensamentos, forçando companhia, segundo após segundo; provocando sensações apavorantes, até que nos acostumemos. Por sorte, já passei dessa fase. De sentimentalismo, já estou calejada.

Só viver

Sua realidade fez minhas maiores utopias parecerem possíveis e todo o meu mundo, uma brincadeira de faz-de-conta. Me fez abandonar minhas convicções - o que eu achava ter desvendado das coisas como elas são, da vida como ela é - e admitir o quanto havia sido tola.
Sua realidade se apresentou a mim como um convite para deixar de ser botão e florescer na próxima primavera. E eu, mais que aceitá-lo, quis merecê-lo. Até que ele veio oficialmente, em forma de cartão, num buquê das minhas lindas rosas, como uma proposital ironia.
Estava já disposta a deixar tudo para trás. As malas prontas e postas na sacadas guardavam roupas, memórias e outros pertences acumulados ao longo do tempo. E eu estava pronta para ti, tanto quanto foi possível restaurar-me. Pronta para sair dos entulhos da ruína de minha antiga esperança e enfrentar o que viesse, com a mais bem ensaiada pose de durona. E a segurança de nossos dedos entrelaçados. As malas postas na sacada e eu reposta no meu lugar.
Sua realidade, quando passou a ser nossa, tornou-se meu maior sonho realizado.
Nossos desejos particulares cederam espaço à planta de uma casa, a contas-poupança, a anões de jardim  e carrinhos de nenês. E fomos construindo amor ao longo do caminho.
Assim descobri que melhor do que sonhar... só viver.

Sem você. Com saudade.


Sentir saudade de você é difícil. Não necessariamente por causa da própria saudade mas, de tudo o que vem junto com ela. Assim, sinto-me uma perfeita panela, não sem tampa, mas sem cabo. Como se, o tempo todo, alguma parte essencial de mim estivesse faltando. E o tal tempo, no todo que o pertence, transcorre lentamente, de um jeito aborrecido, como se nem ele suportasse seu próprio ritmo. Em suma, parece não avançar. E a vida vai acontecendo como uma longa espera na rodovia, quase alheia de mim, quando você não está. E sinto que todas as coisas, por mais divertidas que venham a ser, poderiam ter uma dose a mais de graça. Inclusive eu mesma. Sinto-me também um tanto quanto insensível, diferentemente do que normalmente sou, como se nada mais conseguisse ser intenso a ponto de me afetar. Não depois de você. Não mais que o seu carinho. Sinto, ainda, um frio na barriga toda vez que o som da campainha tocando desperta a esperança de te ver outra vez. E minha vontade de te ver não passa. E minha saudade, a vista embaça. Pra que eu só tenha olhos pra você. Para garantir que o resto seja só isso: Resto.
E isso sem falar do aperto no peito.


(Tomei vergonha na cara e criei um marcador para o Nas Margens de Mim)

Se...

Se você soubesse como anda o meu coração, se houvesse, ao menos, alguma forma de expressar, se fosse mais lógico ou exato como a matemática eu tentaria - mesmo tento que deixar os meio-termos de lado, ainda que nem eu saiba ao certo - te fazer entender. Se você sentisse o que eu sinto, visse a mim como eu te vejo, almejasse o mesmo fim com todos os "para sempre" que dão imortalidade às histórias,nós poderíamos viver nossa própria versão dos contos de fadas (sem príncipe, nem princesa, só o amor que os faz enfrentar os dragões). Se eu te falasse somente belas palavras, tivesse tempo para pensar em algo mais além de respostas tolas a seus questionamentos súbitos e, então, minha voz não saísse aos tropeços, talvez eu fizesse mais sentido para você. Se eu permanecesse intacta ao te ver, estivesse acostumada a nós tão perto de forma concreta e recordasse os planos de ação A, B, C, D para encontros eventuais que fiz sem perceber enquanto a imaginação se encarregava de criar cenários improváveis de cenas que nunca aconteceriam, talvez você gostasse do que normalmente sou. Se você soubesse como anda o meu coração, saberia que se você sorrisse para mim no pior dia do ano, eu retribuiria. Saberia que eu gostaria que dependesse só de mim o fato de ainda sermos um caso hipotético, um "se" entre tantos outros.

(Escrito para o Nas Margens de Mim)

Sendo nós


A sua presença não satisfaz a minha carência somente. Completa a mim. A gente vai acontecendo aos pouquinhos, dia após dia, num espaço de tempo marcado por pequenos detalhes que eu vivo procurando. 
Eu não me importo de ser a última na despedida, na sua vã tentativa de fazer parecer que os beijos inocentes de adeus não têm relevância. Agora eu já posso vislumbrar o "eu te amo" nas entrelinhas, das palavras que estão na ponta da língua, no brilho do olhar mas, tão profundamente no coração, que levam anos-luz até chegarem à superfície. E, no fundo, eu gosto desse ritmo lento em que a vida ocorre e nós vamos esperando por ela, já prevendo o que há por vir e com o estômago embrulhando de ansiedade - conscientes dos vários empurrõezinhos que demos sem-querer para que as coisas seguissem essa direção.
A paixão nos remete a isso, entre todas as outras coisas. Nos torna capazes de loucuras, loucos de apostar no arriscado e largar de mão as poucas certezas que temos na vida. Nos faz ver sob outros ângulos, querer explorar o desconhecido, saltar de um trampolim para um verdadeiro mergulho de cabeça no raso. E fazer planos, tão quase sempre impossíveis que nos tornam o melhor tipo de sonhadores. 
Para puro desespero da realidade, meros mortais não são tão meros quando estão apaixonados.

(Mais um para o Nas Margens de Mim)

Puramente amor


O amor pode realizar o impossível, nós só precisamos saber onde depositá-lo. Ele não existe para ficar guardado no sótão, junto de entulhos e outras coisas facilmente descartáveis. O amor não é domesticado. Não impõe coisa alguma, além de amar. É discreto mas, por conhecer de cor os seus direitos no estatuto, sabe bem reclamar pelo espaço que lhe cabe. O amor é independente, não espera pelo outro, nunca está a sua mercê. Simplesmente ama. Paga e não faz questão do troco. O amor está acima do egoísmo natural porque, enquanto o egoísmo faz parte da natureza humana, o amor é o que existe de mais sobrenatural na face da Terra. Aqueles feitos incríveis, os quais, dizem os boatos, nascemos para fazer, se resumem no desafio de aprender a amar. O amor demora, não tem pressa, surge depois de - sei lá - uma vida inteira, espera passar a euforia da paixão, o tumulto, e, quando chega, não tem mais fim. Desfaz as malas e se acomoda. Não precisa de hotel cinco estrelas, não precisa de estrela nenhuma, aliás. O amor só, e tão somente, basta. O amor carrega consigo, como um pacote duplo que não pode ser entregue separadamente, tudo o que sempre buscamos. O caminho até ele não é fácil - e, deixando de lado o eufemismo, é deveras difícil - mas, traz uma recompensa de valor incalculável. O amor preenche os vazios mais profundos do ser. 
Quem diz "eu só quero ser feliz" e não procura pelo amor, não sabe o que quer. 
Quem diz que amar é para os fracos, não sabe o quanto uma pessoa que ama é mais forte que todas as outras.
E, finalmente, quem não acredita no amor, já não tem no que acreditar.

(Texto escrito para o Nas Margens de Mim)

A vida como ela é

Tenho reparado em gente diferente. Gente que luta extras a mais que todos, que passa por muito mais do que pegar dois ônibus cheios na cidade grande para chegar ao trabalho, gente que tem a rotina, a vida corriqueira, como o seu maior desafio. Entenda que as pessoas normais costumam dizer que se superam a cada dia mas, não. Nem sequer fazem ideia. Eles são os verdadeiros heróis, eles entendem o significado de superação mais do que qualquer um de nós poderia entender um dia. Basta olhar e se houver algum senso de percepção em você, não será difícil notar. Essas pessoas estão por toda a parte e é lindo ver que estão. Diante da ausência de sentidos que podíamos julgar necessários, elas preenchem a vida com sua sensibilidade aguçada. Com sua força, seja para empurrar as rodas da cadeira ou para enfrentar os degraus de uma escada. Com sua dignidade, de enxergar sem ver. E tocar. E imaginar. De inventar cores, inventar uma realidade inteira. Com sua disposição para realizar o simples. E de poder, assim, valorizar cada gesto, por mais minúsculo que seja. Com sua voz, que diz "isso é possível", ainda que esteja calada.
Não importa se tiveram que perder ou nasceram sem ter, porque todos os dias, a cada manhã, eles poderiam acordar e pensar em desistir. Jogar tudo para o ar, entrar em desespero - exatamente como eu faço quando não encontro a roupa certa para determinadas ocasiões.
Mas eles preferem levantar, sorrir para as dificuldades e transformar em vida tudo o que teriam a reclamar sobre como o mundo não é um lugar ideal. Aqui não há espaço para futilidades.

Foi-se

Nós passamos por muita coisa desde o dia em que nos conhecemos, e confesso que eu não acertei em nada do que pensei a respeito. Você foi uma surpresa para mim, em todos os sentidos incompreensíveis da palavra. Você me completou por algum tempo, me deu o que eu precisava e quando passou a exigir o mesmo de mim descobri que não tinha ideia de como fazê-lo. Eu quis sentir raiva de você por incontáveis vezes, por infinitos momentos e, eventualmente, só por um segundo e não obtive sucesso em nenhuma das tentativas. Depois percebi que o problema era que você tinha me feito rir muito mais do que conseguiu me irritar, você me amou muito mais do que eu achava que amaria e, enquanto eu não esperava nada, você esperou o dobro em retribuição. Você fez coisas de propósito que a maioria das pessoas não seria capaz de fazer sem querer, você escreveu textos, falou o que daria para ser longos discursos partindo de pressupostos diferentes dos meus. E o mais engraçado foi descobrir que a gente não se entendia quando era obrigatório que o fizéssemos, que a gente sempre pensou por um até o momento em que passamos a ter de pensar assim. Até o momento em que decidimos compartilhar muito mais do que as mesmas opiniões.
Agora já não adianta falar do que seria se fosse diferente, durante muito tempo nós discutimos hipóteses em vão e deixamos de viver o nosso momento então, seguindo a regra de tudo, nosso momento passou. Não nos resta mais nada além do que já se foi. Sabe, "passamos por muita coisa" nunca foi um motivo para que quiséssemos permanecer juntos, sempre foi mais como uma razão para seguirmos em frente.

Permanentemente bagunçado

Às vezes eu tenho muita coisa sobre o que falar, mas não sai, não sai. Talvez eu não seja boa o bastante para expressar tudo isso em palavras, talvez elas cheguem com um tempo e depois, talvez já não façam mais sentido. Eu tento organizar os destroços, abrandar o tumulto, conhecer o meu querer e não adianta, eu quero mil coisas e quero nada. Ora só uma boa noite de sono depois de um dia cansativo, ora uma madrugada agitada numa balada improvisada no quarto. Ora carinho, ora distância de tudo que remeta ao amor. Não me entendam mal, isso acontece com outras coisas bem mais importantes, só que é mais difícil ainda traduzi-las. Quanto maior o problema mais fôlego a gente precisa ter para lidar com ele, assim como um bebê gordinho precisa de mais comida e um gorila de muito mais pencas de banana do que todas que um mico pudesse comer em um mês.
Na verdade, eu preciso de permanência. Basta de sentimentos passageiros que vão embora sem que eu nem me dê conta, preciso do que mede a diferença entre alegria e felicidade: a alegria não é suficiente para suportar muita coisa. Alegria é algo que acaba rápido demais. Estou nesse dilema há mais tempo que o esperado, gostaria de saber o que fazer, e se eu soubesse, acredite, faria de uma vez por todas. Esse estou-afim-e-agora-não-estou-mais torna impossível tomar qualquer decisão e "nós" vamos empurrando com a barriga até chegar o dia em que, sei lá, em que eu possa descansar e afagá-la dizendo "bom trabalho!", até a hora H das decisões e dos indecisos. Onde ninguém poderia simplesmente passar ileso sem falar sobre o que pretende da vida e de todo o resto de descrições necessárias a um perfil decente.
E isso abrange uma miríade de coisas, como eufemismo para tudo. 

Sobre minha segunda família e minha segunda casa

Meu querido e inesquecível 9º ano,

Todas as coisas pelas quais passamos juntos ficarão guardadas na minha memória, talvez não com a mesma precisão de como me recordo agora, mas, e eu tenho quase certeza disso, com o mesmo sentimento de afeição. Vocês fazem tudo valer à pena, são pessoas que a gente conhece num dia e não leva muito tempo até que chamemos de família, alguns diriam que esta ligação é gerada pela convivência, eu sei, não deixa de ser, mas acredito que seja, principalmente, pela nossa disposição em sermos amigos. Amigos que - sabemos tanto quanto sabemos que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa - podem ou não durar para sempre. Amigos que aproveitaram o máximo de tempo que puderam ter juntos e que agora têm que seguir caminhos diferentes. Amigos que passaram pelas mesmas experiências, pelo mesmo desespero pré-prova, que levaram as mesmas broncas por coisas que fizeram erradas e por algumas que nunca aprenderam a fazer direito. Amigos que brigaram, brincaram, estudaram, riram, choraram, cantaram, e dançaram desde o mash-up de Halo e Walking On Sunshine até Kuduru. E não posso esquecer-me das vezes em que estes amigos entraram em desespero e se revoltaram (com notas baixas ou outras coisinhas mais) e de que fizeram trabalhos tão trabalhosos que no final não restava nem forças para colar os cartazes na parede da escola. Hoje, meus amigos, sinto tanta saudade que até dói só que, se eu estiver certa como acho que estou, saudade nós só sentimos do que foi bom, do que deixou lembranças e mudou o nosso coração, de uma forma ou de outra. 2011 foi o nosso ano, agora somos mais uma turma que faz parte da história do Colégio Sagrado Coração de Jesus e, independentemente do que será daqui para frente, espero que saibam que eu amo vocês. Amo, amo, amo. 

(Texto escrito para o Diário de Bordo da excursão do 9º ano a Morro de São Paulo) 

Outro lado do mundo

Engraçado como as coisas pelas quais esperamos a vida inteira, enquanto brincamos de faz-de-conta, passam a fazer parte da realidade tão de repente, às vezes quase que à pulso e com uma força totalmente imprevisível, como se quisessem dizer "Ei, acorde! Por que esperou que fosse simples?" ao mesmo tempo que dizem descaradamente "Prepare-se. Agora é para valer!" como se preparar-se fosse algo a ser feito de última hora. Mais engraçado ainda é como algumas vão embora, sem aviso prévio, nem despedidas, nem recado na geladeira, como se um furacão passasse por uma casa, deixando tudo às avessas e levasse todas as coisas que não foram firme o suficiente para permanecer lá dentro, mas nem sequer tivesse parado para olhar o estrago tampouco para apagar os rastros, e porque esperar isso de uma furacão? E daí se dói ou não, afinal?... e esta grande reviravolta tira tudo do lugar, nos deixando a tarefa de limpar a bagunça, varrer a poeira e nos acostumar com o novo ambiente, tão conhecido quanto irreconhecível. É a mesma casa, varanda, o mesmo balanço pendurado toscamente no alpendre; mas socorro - e alguém socorra - ela foi arrastada da Disneylândia ao Extremo Oriente num passe de realidade. Por fim, acabamos cogitando a possibilidade de ficar justamente por causa que qualquer outra possibilidade está fora de cogitação. Vamos nos acomodando dia após dia, a sensação de ter tomado um banho de água fria logo é substituída por outras novas, desconhecidas e intrigantes sensações. E o tempo, fazendo o melhor que sabe fazer, trata de passar e tornar tudo o que um dia foi desesperador em algo de fato engraçado. Aí só nos resta rir.

Esfriando

Verão. Calor. Suor. Sorvete. É muito simples porque uma coisa leva à outra. Num belo dia de verão - belo mas ainda assim muito quente -, gotejando de tanto suor, decidi que o melhor a fazer era esfriar um pouco a situação, simplesmente porque nós precisamos encontrar o meio termo das coisas. A questão é que havia uma sorveteria não muito longe e uma garota determinada a ir até lá.
Depois de enfrentar o sol, a fila, o caixa (engraçado esse negócio de pagar antes de comer, né?!) chegou a minha vez "- Um colegial, por favor!"  "- De que sabor?" E esse foi o maior problema até ali. Ora, tantos sabores tão gostosamente saborosos de sorvete e eu teria de escolher apenas um, chegava a ser crueldade, mais ainda porque sou indecisa quando se trata de escolher ou, pelo menos, na maioria das vezes. Isso geralmente é coisa que eu não assumo assim tão facilmente porque, veja bem, todo mundo acha tão bonito ser decidido, 8 ou 80, têm aversão ao mais ou menos, costumam dizer "mais pra lá ou mais pra cá?" e, se a gente olhar bem, mais ou menos até que pode ser uma resposta bem definitiva.
"- E então?" "-...frutas tropicais, iogurte com amora... hmm... floresta negra... não, espera, espera, espera, BRIGADEIRO, brigadeiro está ótimo!" A sorte é que sempre há aqueles cujos quais temos mais afinidade, por assim dizer, os sabores de sorvete que vamos pedindo até que chegue a ânsia de inovar. E eu ficaria bem satisfeita com um sorvete colegial de brigadeiro. "- Cobertura?" "- Aham, capricha aí, moça!" "- De que sabor?"
Umpf, é muita luta para alcançar essa almejada temperatura ambiente.

A escalada

Faltava muito pouco, a euforia aumentava proporcionalmente à medida em que estava mais perto, havia uma batida familiar, vinda de algum lugar lá de dentro, que fazia doer a caixa torácica. Houve um momento em que já não estava mais aguentando, suas pernas tremiam fartas, seu corpo inteiro era pura fadiga, e então avistou o cume. Um sorriso apareceu em seu rosto (mais iluminado que o sol), uma força revigorante trouxe novamente o ar de seus pulmões e depois de poucos minutos ela alcançou seu sonho da vida inteira. Estava inegavelmente feliz. Naquele instante não faltava mais nada. Ainda havia outros planos, outros desejos, outros sonhos, mas não, não naquele momento. E depois de incontáveis pulos de alegria, parou e observou o quão alto chegara e pensou no seu esforço e determinação, nunca havia deixado de acreditar em si mesma e não se levara a sério o suficiente quando achou que tudo o que podia fazer era desistir, mas ela não somente não desistiu como também seguiu em frente.
Olhou para baixo e sentiu um frio na barriga, gostava daquilo. Pensando bem, afinal de contas, o que era o cume se comparado a toda escalada? Que importância teria se passasse apenas dois metros do chão? Que valor lhe seria atribuído se não fosse tão difícil alcançá-lo? E se deu conta de que não era só o topo da montanha, era tudo o que havia feito para chegar ali, que o primeiro passo pode te levar à esquina ao mesmo tempo que pode te fazer rodar duas quadras inteiras, dependendo de onde queira chegar. Ela queria o longe, nunca se conformou com o que era palpável, nunca se conformou em esperar que viessem até ela, por isso foi até lá. Queria o impossível, perfeitamente possível que é.

Atualização:
"Eu aprendi que todos querem viver no topo da montanha, mas toda a felicidade e crescimento ocorre quando você está escalando-a." (Shakespeare)
Encontrei esta frase na agenda de 2011 do colégio, talvez eu tenha me inspirado nela, inconscientemente.

Isso sem falar das não-tão-românticas

Ela precisa de amor e carinho. Ela precisa que você olhe nos seus olhos e só então diga, e que diga a verdade. Ela precisa de incentivo, mesmo que pareça sem lógica apostar numa coisa tão improvável quanto alcançar um sonho. Ela precisa de tempo para estar convicta do que é a coisa certa a se fazer, e, principalmente, que alguém a espere durante esse tempo e segure sua mão e mostre que é seguro seguir o coração dessa vez. Ela precisa de algo constante, de abraços constantes e palavras acalentadoras. Permanência. Ela precisa de sorrir, de risos infinitamente longos, que seja necessário um intervalo para respirar e que ela continue rindo, desta vez com as mãos apertando a barriga. Ela precisa de otimismo, de polegares indicando positividade. Ela precisa de companhia mesmo quando aparenta não querer. Todos precisam, afinal. Ela precisa de elogios, não daqueles grotescos que enaltecem mais o físico que qualquer outra coisa. Ela precisa de ser notada, ainda que só tente. Ela precisa de paciência (o máximo possível!!!), até precisa de que de vez em quando calem sua boca e mostrem o quão boba está sendo. Ela precisa de surpresas, de coisas que a deixem intrigada, que despertem curiosidade seguida de uma sensação raiva seguida de "Ah! Não acredito que você fez isso!". Ela precisa de um amor para a vida inteira, mesmo que não seja de toda a vida. Ela precisa de ouvi-lo cantar, não importa a entonação. Ela precisa de um convite para uma dança, um convite para jantar e, por último, um convite para casar. E, se puder guardar segredo sobre isso: ela vai dizer sim.

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Sei que sumi, posso atribuir a culpa disso a diversas coisas, em primeiro lugar aos estudos. Será que é tarde para desejar um feliz ano novo!? Ah, vamos, o ano nem está tão velho assim...