Bom dia?

Não é que seja um dia ruim. Vamos, olhe pela janela: o sol está brilhando feito um louco! O céu de um azul incrível e veja como as árvores dançam, como tomam toda a atenção da praça. Quaisquer que sejam seus lances com o vento.
O meu problema não está na paisagem, no dia, na data. É muito óbvio que esteja na hora. Pois já se passou do tempo de mudança. O sorveteiro nunca precisou afugentar um mendigo que dormia na calçada. As pessoas nunca precisaram disputar quem pega mais numa balada. Não precisavam furtar jóias e vidas. Nem banalizar as coisas mais puras que existem. Triste mesmo é a parte humana da humanidade ter sido extinta, e a gente conhecer tão bem isso que chamam de extinção.
É por isso que eu não suporto mais "bons dias". Afinal, só vai ser bom quando for de verdade. Quando eu puder ver o brilho das manhãs refletido em tudo. Ofuscante.
O gelo, o fogo e outras teorias criadas por aí andam perdendo pontos, porque - apesar de não haverem outdoors anunciando - é assim que o mundo acaba.

Escolhas verdadeiras

Nem mesmo o seu olhar consegue me dizer alguma coisa sobre o que é... o que se esconde. Preciso imaginar para satisfazer-me só por um instante. E, contando com a fertilidade da minha imaginação, chego muito, muito longe. Sabe, quero só o real, saber disso e poder eliminar o resto. Quero inteiramente a sinceridade, sinceridade do ser, ser que você é. Limpo, puro, claro, tão claro quanto é possível não me ofuscar os olhos. E que os outros se explodam. Esse você de quem eu tenho falado sou mesmo eu, pois sou eu quem precisa esquecer do que eles vão pensar, sou eu à beira deste precipício achando que alguém deveria me entender e, no entanto, todos têm os seus próprios problemas. É esperar demais que saltem comigo ao invés de que tentem me afastar do abismo.
Estou carente da verdade, em mim, em outrem. Estou cansada de carinhas sorridentes que, no fundo, são pura carranca, de falas por trás das cortinas... pra quê? O que esse palco imenso faz aí, afinal?
Nada contra mas, eu tenho tudo contra:
Porque verdades machucam (muito) só que mentiras destroem (completamente).

Rotinando

E então seus lábios estavam a dois centímetros de distância. O despertador toca, abro os olhos devagar, ainda dormindo. Dez minutos para as seis da manhã. Rolo na cama, encolho debaixo do edredom, passam-se cinco minutos. Espreguiço-me, estico o corpo e bato a cabeça no beliche. Carranca e resmungo. Mais cinco minutos se vão. Seis, em ponto. Levanto-me, meio tonta... culpa do sono... ou da topada com a cama. Rastejo até a cozinha. O café da manhã está pronto. Valeu, mãe. Mordisco uma torrada para "enganar a fome" e como é que falam mesmo? Ah, "partiu banho". Nhá. Água quente, uma fresta deixa a brisa fria escapar para o banheiro enevoado. Minha sauna. Nesta hora os problemas viram vapor, perfeita ebulição. O sono dá adeus, deixando recado de que voltaria logo à noitinha. Desligo o chuveiro. Tudo descendo pelo ralo... frio, brrrr! Toalha! Saio com os joelhos tremendo, o uniforme no quarto. Devidamente vestida, retorno à cozinha, e, aplacando de vez a fome noto que já são seis e quarenta e oito. Pegando a mochila, dinheiro para o lanche, confere os horários, celular no modo vibratório (para casos de urgência, vai), corre. Tchau pra quem fica, já vou indo. Destino: colégio.
Ando ansiosa pensando neste primeiro dia de aula e em como tudo é bom e tem cheiro de novo nas primeiras semanas. Dá até gosto e menos raiva quando quebra a ponta do lápis. Mas, só nas primeiras semanas.

Depois é foda.

Dançou

Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
No nove você abre os braços e se joga na dança. Deixa rolar. Vai no embalo. Embala. Atraia olhares para si. Faça eles dizerem que "dançou lindamente!". Dance, dance, dance... Ao som da cidade, do bater de asas de uma borboleta, ao som que não se ouve. Apenas dance. Eles já deviam saber que este mundo é dos loucos. Liberdade. Felicidade. Vontade. Expresse. Expresse-se. Entre no ritmo, convide a vida para bailar contigo... Dance bem dançado, dance agarrado, caprichado. Receba aplausos, flores, sorrisos...

Dançou. Próxima vez espero ser seu par.

O que te faz questionar o real

Acordou com o som dos coqueiros balançando ao vento. Olhou ao redor e notou que tinha sido um sonho. Alimentou seus hábitos matinais, e depois, correu ao encontro do mar. Tirou os chinelos no momento em que alcançou a areia macia da praia e jogou-os num canto. Flutuou para mais perto. Parou. Esperou, ansiosa, a primeira onda alcançar os seus pés e sorriu escandalosamente quando aconteceu. Enfim, lançou-se em ondas maiores e deliciou-se com a água que fora beijada pelo sereno da noite.
Quando percebeu já estava se debatendo submersa... perdendo o fôlego...
Fechou os olhos castanhos. Não voltou a abri-los.

Levantou da cama, assustada. Olhou ao redor e notou que tinha sido um sonho.