Esse dia

Já não sei o que acontece. Vivo agora a necessitar de ti. Estamos tão longe e isso me deixa infeliz.
Será que deveria ser assim?
Não faz uma semana. Não faz sequer um dia. Mas sei que fará. E isso, desde já, me traz uma angustia sem explicação.
Eu preciso ter a certeza de você 24h por dia, de que tudo é real, de que você está mesmo ali (na minha vida), mesmo pintando o muro na chuva, mesmo jogando futebol cheio de areia e suor, mesmo dormindo em outro cômodo e deixando seu cheirinho em um lençol inanimado que não te merece. Eu preciso. Acordar e saber: você está. Você é. E que eu posso segurar suas mãos para me sentir em segurança. Porque eu estou em suas mãos, mas não estou segura ainda. Tudo pode ser passageiro por agora, apesar da constância desses últimos tempos.
Eu quero mais: quero realizar nossas lembranças inventadas. Quero lembrar desse nosso dia: os resquícios da maresia em nossos corpos, sentados aconchegados na rede azul-marinho do alpendre, quando sonhamos vermos chegar os nossos filhos e netos numa casinha nossa de praia e te dizer: Lembra daquele dia? Nós fizemos isso, meu amor. Você acredita? E você não precisaria pagar para ver. Eu não desataria a prometer ainda que estivesse a desconfiar, no meu íntimo, aquele tantinho só.
Porque o meu coração, embora comumente tolo, sabe que "há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrê-lo".
Mas isso não muda o fato de que nós o conhecemos, amor. E que esse mesmo coração deleita-se com a ideia, entusiasmado de sonhos.
Segure minha mão.
Por favor, sigamos em frente.
E, se precisarmos parar, que seja para apreciar a paisagem. Da vida em nossos olhos.