Desenhos no varal

Os desenhos do maternalzinho pregados no varal da escola fazem sentido agora. Entender a bagunça é a arte de quem está/é bagunçado. Aquilo tudo amontoado num só lugar poderia não significar nada, cheio de rabiscos sem rumo querendo colorir o branco; só para dar cor e ficar tudo bonitinho, e depois acaba ficando mesmo. Especial. Bonequinhos de palitos, florzinhas borradas, rastros de borracha e mão suja. Cães às vezes parecem insetos gigantes se contorcendo antes de morrer, mas, de qualquer forma, eu entendo.
Entendo quem consegue enxergar coisas lindas através de desenhos pendurados no varal do jardim de infância.

Significados

Costumamos achar que ser feliz é não sofrer, costumamos nos firmar em preconceitos que nos impede de ver além, costumamos achar que amar é tão fácil e doce quanto chupar uma bala e, quase na mesma proporção, costumamos inverter o conceito de bonito e feio. Quem é que não almeja ser cem por cento?, ora, humilhante mesmo é reconhecermos nossa pequenez. Melhor ignorar a regressão constante que é a humanidade, porque não só fazemos parte dela, exatamente. Melhor acreditar que somos capazes de tudo, que podemos fazer qualquer coisa, afinal, cada um é dono do seu próprio nariz, dita suas próprias regras, entende o que é melhor para si. "Bobagens antiquadas" não fazem, nem nunca fizeram, diferença num discurso. Acaba-se tornando mais uma polêmica sem conclusão. Melhor não cansar a tolerância e cruzar os braços apenas, enquanto vemos coisas todos os dias serem colocadas à pulso na normalidade. Melhor é ignorar que o vazio em que transformou-se o ser impregna todo o resto assim como uma fruta contaminada num cesto repleto de outras frutas. 
Eu sei, pobres de nós, que não podemos salvar o que quer que seja sozinhos e ainda assim depositamos toda a fé em nós mesmos. Pobres de nós, que não estamos dispostos  a acreditar na nossa única esperança. Pobres de nós, que jamais estivemos tão longe e ainda buscamos a felicidade tão assiduamente nos caminhos errados. Pobres de nós, que sofremos e esse sofrimento não vale a pena.

Construindo o depois

"O que esperam de mim?" Já me fiz esta pergunta muitas vezes, mas em nenhuma delas encontrei alguma resposta suficientemente boa, algo que não fosse uma mera desculpa para não dizer que não faço ideia. Aceitei críticas, mudei e recebi críticas de novo e foi isso que fez perceber que não importa o quanto eu mude: Nunca vão estar satisfeitos. E que o meu esforço deve continuar valendo, para mim, mesmo quando ninguém nota que me importo de verdade, nem apoia os meus planos e a construção do meu futuro a meu modo. Eu não queria seguir um padrão, como se nós tivéssemos nascido com manual de instruções e teclas coordenativas - tampouco revolucionar o mundo -, só gostaria de poder fazer algo útil da minha vida, que seja útil e que me realize. Que eu pudesse dizer "sim, quero isso!" como alguém diz "esse prêmio já tem o meu nome!" com toda aquela confiança em si mesmo e um sinal de exclamação no final. Só que eu simplesmente cansei de idealizar coisas que nunca acontecem, cansei de me revoltar em troca de nada, de procurar respeito de quem não sabe o que isso significa e, às vezes, penso seriamente em desistir, largar tudo para o alto, confesso que seria bem mais fácil... mas NÃO. Não é algo que se largue, um sonho.

Sobre riachos

Pele macia, bumbum de nenê. Pálida. A boca um tom de coral e longos cabelos vermelhos vivos sem fim. A menina corria em direção ao riacho nos fins de semana, era sagrado. E nadava até o pôr do sol, a correnteza brincando com o seu corpo e o vento alternando entre o frio e o calor. Gostava daquilo, de se sentir parte do mundo, mesmo que não fosse tanto assim. Para ela, paz significava natureza... e tudo, tudo tinha de ser o mais natural possível.
Até nos dias de tempestade quando seu riacho se revelava capaz de engolir todas as flores das margens continuava a ser seu ponto de refúgio. Porque uma coisa que é sua nunca deixa de ser, nem nos tempos de maior tormenta, nem nos de maior tensão, nem em qualquer outro tempo.
Mas num determinado dia ela precisou ir embora, essa coisa de ir embora acontece muito com as pessoas. E as águas do riacho secaram. A paisagem desmoronou com as tragédias de cada dia.

Só que ainda não foi o fim de história.
Sua mente ingênua a confundia, mas nunca a enganava. Ela sabia de certo que havia outros lugares no mundo onde poderia encontrar coisas boas.
Ainda há e nem todos secam.

Incompreensível como tudo

O engraçado dessa vida é que a gente sempre espera que vamos crescer e passar a entender as coisas, vê-las como realmente são, cada vez de modo mais concreto e, no entanto, quando se vai crescendo, diferentemente de nossas expectativas, acontecem as coisas mais complicadas do mundo. E aí você fica perdido. E aí, você que antes nem ligava para isso, passa a olhar as horas para não chegar atrasado e contar o tempo, e ter de fingir que se importa ou que não. Passa a fazer coisas e depois perguntar a si mesmo o  porquê de as tê-las feito. Tenta achar, ao menos, razão para as nuvens não serem simplesmente algodão, ou para o coração ter que ficar apertado e as lágrimas caírem tão silenciosas agora. Buscando uma explicação para tudo, mesmo sabendo que muita coisa não se explica. Depois não entendem o lance do estresse. Quando o que estiver por perto vira alvo e quem, também, sair de cima, baixo, lados e diagonais é o que deveriam fazer. Mas não. Todo mundo fica lá, sufocando. Não entendem que eu não entendo bulhufas. Não entendem essa sensação de que eu estou numa estufa, acumulando problemas sem solução e vivendo em meio a coisas que não estão no seu devido lugar, ou talvez até entendam e já tenham esquecido. E a vontade de consertar tudo me persegue. Explodir, ando fazendo todo dia. Mas então se já estou tão cheia significa que não tem mais espaço para nada. O que pode acontecer agora é passar.
Quero dizer, ainda não pensei no que faria se piorasse. Já está turbulento demais.

23:22h

Aí, do nada, aparece o primeiro calo.
E a rifocina impregna em tudo. Impressionante.
Mas ultimamente está tudo muito confuso, não adianta tirar palavras da boca quando elas vêm enroscadas, mal pronunciadas, o mesmo que não dizer. Apertar teclas por precisão não trazem coisas muito produtivas. O pessoal chama de babaquice. Acontece que, de vez em quando, você tem que falar, falar por nada, só falar, falar, desabafar. O que vier na mente serve. Confusão é isso, e alivia, totalmente. E piora ainda mais quando já é de noite e esquece-se de tomar cafeína.
Vou dormir... aliás, porquê será que eu só penso nisso ultimamente? É, é isso boa parte do tempo. E por falar nele, preciso de mais, alguém aí sabe onde é que posso encontrar?
Brincadeirinha. Ainda não enlouqueci.

Das cores do mundo

No escuro tudo é complicado, quando a noite chega o coração aperta ainda mais. Alonga-se a distância. Aquele interruptor nunca vai estar no mesmo lugar do primeiro toque na parede, e tatear às vezes parece tão inútil quando não se sabe para onde seguir. Guardar velas na gaveta mais próxima é sim forma de prevenir, apesar de que nem toda a iluminação do mundo possa substituir a penumbra aqui dentro. E assim acaba-se a história: A questão nunca foi a luz ambiente. Quando a dor aparece, o mundo é de uma só cor. Falo disso porque lembro-me bem daquele pôr de sol perfeito que parecia tão triste. Porque, na verdade, não era ele que estava. Mas passa, agora a gente sabe que tudo passa - sem que exista o eterno enquanto dure, pois então, não haveria duração. Das coisas ruins só se tira as lições, o resto é pra esquecer: pegar a pá e enterrar.
Ainda assim, o pôr do sol fica.
Talvez mais brilhante, mais bonito, mais perfeito. Basta aguardar a próxima vez, com um sentimento mais sorridente de preferência. Quando se está feliz o mundo também é só de uma cor, daquela que se quer enxergar.

Puff

Espera. O tempo passa, pode ter certeza. As coisas chegam, cedo ou tarde, mas nunca é tarde o suficiente para não poderem mais chegar.
Paciência. A gente aprende a ter, pode até ser. Talvez seja. O negócio é entender que se desesperar não vai levar as coisas a acontecerem.
Conseguir chegar em algum lugar exige um ponto de partida e um destino mas, é no percurso que nos provamos capazes. E pra ser só um pouquinho pessimista: a reta final é a parte mais agonizante. De sentir tão próximo a ponto de dizer que já é seu: um préludio para quando for de verdade.
A pergunta, sempre a mesma: Posso gritar agora? "Ai, meu Deus, está tão perto!!! Falta tão pouco!". Força de expressão.
E puff, de repente é a hora...
seja do primeiro amor,
ou das primeiras sapatilhas de ponta.
Só para tudo parecer bem simples.

Tô com sono

Lógico que não é a melhor foto de um urso esparramado, mas esse, eu vi AO VIVO.

Linha de defesa

É lei de sobrevivência: Criaturas se defendem quando se sentem atacadas. Mas, nessa guerra em que me encontro, o seu abraço protege mais que qualquer escudo. E eu gosto de ter o meu mundo resumido nele. Em nós. Gosto de ver como abraços fazem o serviço completo. Eles podem significar várias coisas, no entanto, sempre dizem "juntos estamos à salvo".
Já estava cansando dessa sensação de desemparo, quando de repente me dei conta de que tudo estava bem, de que ninguém poderia arrancar de mim o que meu coração insiste em sentir - a não ser que o próprio coração fosse arrancado, mas então, não haveria mais problemas com o que me preocupar, porque meu ponto fraco é a minha maior arma.
Resolvi que dane-se essa guerra! Eu não tenho mais medo! Não agora, enquanto me sentir amada. Não enquanto houver alguém aqui, comigo.
No fim, sabemos bem: juntos estamos à salvo.


O suficiente

Tenho uma coisa a dizer: Tudo muda quando você descobre aquilo que todos já sabiam sobre você mesmo. Bate aquela sensação de "traição", aquela vontade de socar a parede um nó na garganta, enfim, coisas que só podem ser sufocantes.
Andar pelos corredores nunca fora tão difícil. Pela primeira vez eu me senti deslocada por não saber o que os outros pensavam, até então não sabia que alguém podia ser rejeitado pelas mesmas atitudes que julgava ser o melhor para todos, tampouco pude conceber.
Como mudar se na sua concepção o que você faz está correto? Esquecendo as suas concepções? Ah, por favor, não me peçam para mudar, não vai acontecer. Eu apenas optarei por trabalhos individuais. E aí estarei sozinha fazendo o melhor pelo grupo, melhor do que faria sendo parte dele.
E julgue-me quem achar que deva: Não quero ser dona do mundo, nem da razão, nem disso, nem daquilo. Só quero ser dona de mim; o suficiente para saber lidar comigo sozinha.

Sobre o dia de hoje

Foi aí que você aconteceu de repente.
Com o tempo as coisas tendem a crescer, ou a passar, ou a parar de vez. Com o tempo eu fui crescendo com você, as primeiras impressão passaram. Sua forma nítida congelou em minha mente. Eu meto a mão no fogo por quem você é. Eu enxergo um tesouro em cada canto do seu coração, não, não aquele que bate aí dentro de ti, falo daquele abstrato que a gente diz ser onde o sentimento está guardado, desenha em papel e escreve o nome de pessoas como você lá dentro. Eu escrevo o seu nome em corações de papel.
E nem estava atrás de um amigo, tampouco esperava encontrar um que se tornasse tão querido... mas nós sempre estamos aptos à boas investidas. Você foi uma delas. E eu percebi. Eu percebi.
Hoje não existe distância que me faça estar longe. Um viva à tecnologia.
O futuro? Cheinho de planos! Pode esperar, chuchu! Mais tempos irão passar, as coisas mudarão de novo e mais uma vez, e para isso não é preciso planejamento. Mas saiba que algumas coisas resistirão aos furacões. As abstratas... talvez. A nossa amizade.
Por isso, Belota. Você é para sempre. Nem que eu tenha que escrever uma história com era uma vez e ponto final para que isso aconteça. Por enquanto não precisamos disso.

Feliz aniversário! NHAC!
Dedicado à uma tal de Isabela Oliveira
não existe outra que tenha as bochechas tão grandes
e que eu ame tanto

Bom dia?

Não é que seja um dia ruim. Vamos, olhe pela janela: o sol está brilhando feito um louco! O céu de um azul incrível e veja como as árvores dançam, como tomam toda a atenção da praça. Quaisquer que sejam seus lances com o vento.
O meu problema não está na paisagem, no dia, na data. É muito óbvio que esteja na hora. Pois já se passou do tempo de mudança. O sorveteiro nunca precisou afugentar um mendigo que dormia na calçada. As pessoas nunca precisaram disputar quem pega mais numa balada. Não precisavam furtar jóias e vidas. Nem banalizar as coisas mais puras que existem. Triste mesmo é a parte humana da humanidade ter sido extinta, e a gente conhecer tão bem isso que chamam de extinção.
É por isso que eu não suporto mais "bons dias". Afinal, só vai ser bom quando for de verdade. Quando eu puder ver o brilho das manhãs refletido em tudo. Ofuscante.
O gelo, o fogo e outras teorias criadas por aí andam perdendo pontos, porque - apesar de não haverem outdoors anunciando - é assim que o mundo acaba.

Escolhas verdadeiras

Nem mesmo o seu olhar consegue me dizer alguma coisa sobre o que é... o que se esconde. Preciso imaginar para satisfazer-me só por um instante. E, contando com a fertilidade da minha imaginação, chego muito, muito longe. Sabe, quero só o real, saber disso e poder eliminar o resto. Quero inteiramente a sinceridade, sinceridade do ser, ser que você é. Limpo, puro, claro, tão claro quanto é possível não me ofuscar os olhos. E que os outros se explodam. Esse você de quem eu tenho falado sou mesmo eu, pois sou eu quem precisa esquecer do que eles vão pensar, sou eu à beira deste precipício achando que alguém deveria me entender e, no entanto, todos têm os seus próprios problemas. É esperar demais que saltem comigo ao invés de que tentem me afastar do abismo.
Estou carente da verdade, em mim, em outrem. Estou cansada de carinhas sorridentes que, no fundo, são pura carranca, de falas por trás das cortinas... pra quê? O que esse palco imenso faz aí, afinal?
Nada contra mas, eu tenho tudo contra:
Porque verdades machucam (muito) só que mentiras destroem (completamente).

Rotinando

E então seus lábios estavam a dois centímetros de distância. O despertador toca, abro os olhos devagar, ainda dormindo. Dez minutos para as seis da manhã. Rolo na cama, encolho debaixo do edredom, passam-se cinco minutos. Espreguiço-me, estico o corpo e bato a cabeça no beliche. Carranca e resmungo. Mais cinco minutos se vão. Seis, em ponto. Levanto-me, meio tonta... culpa do sono... ou da topada com a cama. Rastejo até a cozinha. O café da manhã está pronto. Valeu, mãe. Mordisco uma torrada para "enganar a fome" e como é que falam mesmo? Ah, "partiu banho". Nhá. Água quente, uma fresta deixa a brisa fria escapar para o banheiro enevoado. Minha sauna. Nesta hora os problemas viram vapor, perfeita ebulição. O sono dá adeus, deixando recado de que voltaria logo à noitinha. Desligo o chuveiro. Tudo descendo pelo ralo... frio, brrrr! Toalha! Saio com os joelhos tremendo, o uniforme no quarto. Devidamente vestida, retorno à cozinha, e, aplacando de vez a fome noto que já são seis e quarenta e oito. Pegando a mochila, dinheiro para o lanche, confere os horários, celular no modo vibratório (para casos de urgência, vai), corre. Tchau pra quem fica, já vou indo. Destino: colégio.
Ando ansiosa pensando neste primeiro dia de aula e em como tudo é bom e tem cheiro de novo nas primeiras semanas. Dá até gosto e menos raiva quando quebra a ponta do lápis. Mas, só nas primeiras semanas.

Depois é foda.

Dançou

Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
No nove você abre os braços e se joga na dança. Deixa rolar. Vai no embalo. Embala. Atraia olhares para si. Faça eles dizerem que "dançou lindamente!". Dance, dance, dance... Ao som da cidade, do bater de asas de uma borboleta, ao som que não se ouve. Apenas dance. Eles já deviam saber que este mundo é dos loucos. Liberdade. Felicidade. Vontade. Expresse. Expresse-se. Entre no ritmo, convide a vida para bailar contigo... Dance bem dançado, dance agarrado, caprichado. Receba aplausos, flores, sorrisos...

Dançou. Próxima vez espero ser seu par.

O que te faz questionar o real

Acordou com o som dos coqueiros balançando ao vento. Olhou ao redor e notou que tinha sido um sonho. Alimentou seus hábitos matinais, e depois, correu ao encontro do mar. Tirou os chinelos no momento em que alcançou a areia macia da praia e jogou-os num canto. Flutuou para mais perto. Parou. Esperou, ansiosa, a primeira onda alcançar os seus pés e sorriu escandalosamente quando aconteceu. Enfim, lançou-se em ondas maiores e deliciou-se com a água que fora beijada pelo sereno da noite.
Quando percebeu já estava se debatendo submersa... perdendo o fôlego...
Fechou os olhos castanhos. Não voltou a abri-los.

Levantou da cama, assustada. Olhou ao redor e notou que tinha sido um sonho.