Fiat Lux

Escrito em 10 de abril de 2015

Eu quis tirar uma foto das estrelas.

Elas eram um amontoado bonito. Pontinhos de luz infindáveis. As reticências do universo.

Pequenas, desafiavam o breu da noite com mil sorrisos brilhantes de comerciais extraterrestres da Colgate, seguindo-nos, companheiras e estáticas, por 63 km a fio.

Atrás da cortina esvoaçante, dos suspiros de cansaço abafados, do vento fustigante e barulhento fazendo pressão no ouvido esquerdo do motorista, acima da inconstante paisagem de vegetação arbórea que nos dava, a cada metro, acelerado "oi" e "adeus" mal-acabado, lá estavam as gentis estrelas. Mais altas, mais belas, mais misteriosas na sua realeza, mas mais humildes que as luzes artificiais das cidades dos homens.

Pensei em quantas delas já teriam morrido. Luzes que não se apagam.

Eu queria ser feliz como uma estrela. Ser poesia como uma estrela. Fazer sonhar. Saber o caminho da Vida tal qual a Estrela do Oriente, sem jamais perder-me ou levar à perdição.

Mas, no enquadramento da câmera fotográfica, tudo era escuro no céu.

Captei, então, o visor da quilometragem, com sua contagem obsessiva e agressiva luz neon e incandescente e que me fez lembrar, de um jeito meio estranho, que elas ainda estavam lá. Olhei com os meus próprios olhos. Guardei-as no coração.

E agradeci a Deus por ainda poder apreciá-las pela manhã, quando o Sol, finalmente, voltará para o lado certo da Terra e o mundo terá a cor de outra inspiração poética. Sentindo. Sabendo.
Não há escuridão desde que fez-se a luz.