Carta pra depois

Querido,
Eu tento ignorar todos esses anos que ainda hão de vir e todas as coisas que devem acontecer antes que finalmente possamos estar juntos da maneira que sonhamos, e brindar o presente com entusiamo, como manda a filosofia daqueles que sabem viver. Juro que sim.
Eu tento me convencer de que o futuro só a Deus pertence e parar de me preocupar a respeito do que não me cabe. E ignorar a ansiedade que insiste em aparecer e ocupar a eterna zona de conflito que eu chamo de mente, apesar de minhas advertências. Mas, na verdade, sei bem que ela é apenas uma pressa contida de querer fazer as coisas enquanto é possível, proveniente do medo de não poder fazê-las depois, quando for a hora certa. Se, quando essa hora chegar, você já tiver ido embora. Se, quando for a hora certa, já for tarde demais.
Afinal, pode ser que a gente se perca ao longo do caminho, tantas vezes tortuoso. Pode ser que deixemos de nos importar, de reconhecer um ao outro. De que abandonemos os planos, as rotas, os sonhos guardados pra depois. De que desistamos dos filhos que nem nasceram e de seus nomes pré-definidos, e de nossa casinha à beira mar, já construída em quimeras. E eu temo que desancoremos o nosso futuro e passemos a velejar, eu no meu, você no seu, como duas coisas distintas na imensidão da vida - que é muito longa quando é torturante.
Mas, do futuro propriamente dito, eu não dou a mínima. Desde que estejamos juntos até lá.
Não... o futuro não me pertence, meu bem, mas confesso que eu brindaria a ele se parecesse um presente multiplicado... se fosse, quem dera, uma promessa de amor cumprida, como temos certeza de que será agora.

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