Puramente amor


O amor pode realizar o impossível, nós só precisamos saber onde depositá-lo. Ele não existe para ficar guardado no sótão, junto de entulhos e outras coisas facilmente descartáveis. O amor não é domesticado. Não impõe coisa alguma, além de amar. É discreto mas, por conhecer de cor os seus direitos no estatuto, sabe bem reclamar pelo espaço que lhe cabe. O amor é independente, não espera pelo outro, nunca está a sua mercê. Simplesmente ama. Paga e não faz questão do troco. O amor está acima do egoísmo natural porque, enquanto o egoísmo faz parte da natureza humana, o amor é o que existe de mais sobrenatural na face da Terra. Aqueles feitos incríveis, os quais, dizem os boatos, nascemos para fazer, se resumem no desafio de aprender a amar. O amor demora, não tem pressa, surge depois de - sei lá - uma vida inteira, espera passar a euforia da paixão, o tumulto, e, quando chega, não tem mais fim. Desfaz as malas e se acomoda. Não precisa de hotel cinco estrelas, não precisa de estrela nenhuma, aliás. O amor só, e tão somente, basta. O amor carrega consigo, como um pacote duplo que não pode ser entregue separadamente, tudo o que sempre buscamos. O caminho até ele não é fácil - e, deixando de lado o eufemismo, é deveras difícil - mas, traz uma recompensa de valor incalculável. O amor preenche os vazios mais profundos do ser. 
Quem diz "eu só quero ser feliz" e não procura pelo amor, não sabe o que quer. 
Quem diz que amar é para os fracos, não sabe o quanto uma pessoa que ama é mais forte que todas as outras.
E, finalmente, quem não acredita no amor, já não tem no que acreditar.

(Texto escrito para o Nas Margens de Mim)

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