Acordar para o dia

O dia amanhã começa cedo, o escuro logo passa e dá espaço ao brilho aquecedor das manhãs, que nem mesmo a brisa gelada, velho sopro do litoral, consegue extinguir. Das janelas do carro, as árvores transformando-se em um borrão multicor, mais verde que todas as cores. E as nuvens com seus nomes cujos quais nunca recordo, de formatos os mais diversos, enfeitando o céu azul-turquesa por tempo interminável até sumirem no instante em que menos se espera - assim como aqueles sentimentos que ora são tudo o que é possível pensar e sentir (e pensar em sentir) e de repente perdem o significado, já além do campo de visão. 
Às vezes, a nimbus-sei-lá-das-quantas chove. Às vezes, quando chove, volta logo a fazer sol. Mormaço. Clima sem previsão. Aprendi a levar um guarda-chuva na bolsa, por via das dúvidas. A coisa até que é uma boa sombrinha quando a gente sabe fazer o melhor com o que se tem em mãos. Quando nós mesmos somos o melhor que conseguimos. Uma série de adornos imprevisíveis ao longo dos anos, um jeitinho ali, outro aqui, e voilà.
E o tempo escasseando a cada quilômetro percorrido, paradoxando a sabedoria que ele mesmo traz enquanto anda rumo ao perecer. Deixa pra lá, ele diz. Eu deixo. Não há mais o que se fazer.
O dia amanhã começa cedo, sonolento, silencioso. Bom. Como sempre foi dito, como sempre é, bastando que acordemos mais uma vez. Enfim, decidi vivê-lo, integralmente, de forma atemporal.
Abrir os olhos. Acordar para o dia.
Mais tarde, só mais uns cinco minutinhos, e a gente acorda para a vida.

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