Pelo mais

Eu tento apenas conservá-la dentro de mim. Não perdê-la de vista na fácil aparência monótona dos dias.
Conservar a suavidade das pétalas de flor no afago macio dos olhos. De perto. Ainda que pareça tão longe, tornar perto.
É tão fácil acostumar. Olhar sem ver. Querer sem querer: pegar lagartixa pelo rabo, acender a boca do fogão, dar abraço xoxo, essas coisas.
Mas eu quero uma mão para segurar que nunca me solte. De perto. Ainda que precise afastar para desviar dos postes de luz, ser perto. Tão perto que quase já não se sinta os nós dos dedos apertados.
Eu quero um olhar certeiro que saiba falar sem entreolhares. E dizer tudo o que vai ficar. E que nunca passará.
Tão perto que não precise-se fazer esforço para não ser distante. E para não ser mais um dia-apenas um dia-menos um dia-ufa.
Quero hábitos de nascer como o sol, encharcar como a chuva, dançar como o vento. Quente, intenso e suave. Ter essas virtudes que Ele espelhou na natureza e no universo e provocam a brecha vazia que aspira ao Amor em meu coração, que também quer refletir a beleza da vida - sem perdê-la de vista na fácil aparência monótona dos dias.
Pois é realmente mais difícil ver o extraordinário, mas só porque procuramos mais no extra que no ordinário.
E não sou mais ignorante para dizer que não entendo. Nem desonesta o bastante para fingir.
Quero menos do mundo e mais de mim. Pelo mais, quero querer.

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